2024, o ano é de Camões. Faz agora 500 anos do nascimento do príncipe dos poetas

por Paulo Alexandre Amaral, João Marques, Nuno Patrício, Sara Piteira

Luís Vaz de Camões é o poeta de Portugal. É o poeta. E 2024 é o ano dos seus 500 anos. Não é coisa pouca meio milénio depois sabermos de cor algumas das suas criações. Neste centenário é justo que se lembre o poeta genial de quem Frederico Lourenço diz que, "na verdade, os três génios supremos da poesia são quatro: Homero, Vergílio, Dante e Camões". Celebramos aqui os seus quinhentos anos com as primeiras estrofes de "Sôbolos rios que vão", uma mostra desse génio que foi e permanece.

Luís Vaz de Camões é o poeta de Portugal. É o poeta. E 2024 é o ano dos seus 500 anos. Não é coisa pouca meio milénio depois sabermos de cor algumas das suas criações: "Amor é fogo que arde sem se ver,/ é ferida que dói e não se sente;/ é um contentamento descontente,/ é dor que desatina sem doer" ou "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (...) todo o mundo é composto de mudança". A força melancólica dos versos do apaixonado sanguíneo que era Luís Vaz com "Alma minha gentil, que te partiste/ tão cedo desta vida descontente".

Ou a primeira estrofe que propõe o tema d' Os Lusíadas sobre gente que "Da Ocidental praia lusitana/ Por mares nunca dantes navegados/ Mais do que prometia a força humana" partiram para terras distantes encontrando outra gente tão diferente.

Camões era o poeta, ainda é, mas será mais do que isso: em Os Lusíadas mostra o povo e a epopeia de Portugal, mas mostra-se também inteiro como o homem que era. Propõe-se contar a epopeia mas deixa-nos ainda indícios de um programa de humanidade, propõe um mundo de diversidade onde os altos respeitam os baixos, onde o forte não levanta a espada contra o fraco. Camões, o truculento que arde em pouco fogo e que por isso tem de fugir, tem de aguentar a prisão e o degredo (ainda que voluntário), é o mesmo que escreve, embora veladamente, contra a escravatura, é o poeta que acaba o primeiro canto da epopeia portuguesa a verter da pena a defesa do mais fraco:

"Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?"


É o poeta que já antes, nesse canto inaugural, lembrava que "é fraqueza ser leão entre ovelhas".

Luís Vaz de Camões - há a célebre frase "toda a gente enche a boca de Camões" - que menos teve do que mais teve nos seus 55 anos de vida, que dedicou quase duas décadas a montar uma epopeia grandiosa, é também o poeta que não esquece os acossados, talvez porque ele não tenha sido outra coisa.

Neste centenário é justo que se lembre o poeta genial de quem Frederico Lourenço diz que, "na verdade, os três génios supremos da poesia são quatro: Homero, Vergílio, Dante e Camões". Celebramos aqui os seus quinhentos anos com as primeiras estrofes de "Sôbolos rios que vão", uma mostra desse génio que foi e permanece.
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